A história de D. Quixote se passa em uma pequena aldeia da
Espanha, na província da Mancha. Trata de um senhor cinqüentão, que vivia na
zona rural. Tinha nome nobre, porém, poucas posses. Vivia em um velho casarão,
com uma sobrinha, uma governanta e um rapaz
que cuidava da fazenda. A casa, tinha uma extensa biblioteca, sendo a maioria
dos livros de cavalaria, era toda ornamentada com escudos e lanças antigas, o
que levaram o personagem principal a enfrentar sérios problemas. O nome
verdadeiro era dom Alonso Quixano. A maior parte do tempo lia livros de
cavalaria, que falavam de heróis, que saíam pelo mundo matando vilões e
honrando suas amadas. Leu tanto que isso tornou-se uma obsessão, até o dia em
que decidiu, ele mesmo, tornar-se um cavaleiro andante. Muda o nome para Dom
Quixote de la Mancha, se veste com uma armadura e monta em um velho pangaré,
batizado de Rocinante. A princípio, sai sozinho de casa. Seu plano era andar
pelo mundo, desfazendo injustiças, salvando donzelas e combatendo gigantes e
dragões. Como todos os cavaleiros tinham uma amada, para quem dedicava suas
aventuras heróicas, D. Quixote não tinha, mas inventou uma. Lembrou-se que,
anos atrás, estivera interessado em uma camponesa chamada Aldonça, que vivia na
aldeia de Toboso. Era feia, desajeitada e analfabeta, mas o cavaleiro mudou seu
nome para Dulcinéia del Toboso e passou a fantasiar que ela era mais bela que
todas as damas e princesas dos livros. Passou por maus bocados, meteu-se em
apuros, levou surras e voltou para casa todo dolorido para se recuperar, certo
de que voltaria às aventuras. Quando voltou para casa a sobrinha, extremamente
preocupada, com a insanidade do tio, uniu-se ao vigário e ao amigo Nicolau e
queimaram todos os livros da biblioteca de D. Quixote e mandaram emparedar a
porta com tijolos e reboques. Quando se recuperou foi à biblioteca e constatou
que esta havia sumido. A governanta disse que o sumiço foi obra de um
feiticeiro que lá esteve na sua ausência e ele acreditou. Aquietou-se por umas
duas semanas, só passeando pelas redondezas. Num desses passeios conheceu um
simplório lavrador, gorducho e baixinho, de nome Sancho Pança, que concordou em
acompanhá-lo em suas andanças, como escudeiro, sob a promessa de D. Quixote de
que, se um dia ganhasse de um rei, uma ilha como pagamento por seu heroísmo, o
que era muito comum entre cavaleiros, daria a mesma de presente ao escudeiro
para que este se tornasse governador da mesma.
Numa noite, escondidos, deixaram a aldeia: o cavaleiro montado em
Rocinante e Sancho num burrinho. Seguiram-se muitas e desastradas aventuras.
Numa delas Sancho atribui uma nova alcunha ao amo: Cavaleiro da Triste Figura,
pelo estado lamentável em que ficou o amo no último combate. Depois se
auto-intitulou Cavaleiro dos Leões, por enfrentar um leão que encontrou junto à
uma comitiva na estrada. O tratador se viu obrigado, diante da imposição de D.
Quixote, a abrir a jaula. O leão não quis sair. Porém todos comprovaram que ele
estava mesmo disposto a enfrentar a fera. Continuando as andanças D. Quixote
vive sob a alucinação de que está realmente vivendo na época áurea da
cavalaria, quando estas já não eram realidade da sua época. Vê pás de moinhos
de vento e imagina que são gigantes com braços enormes, entre outros delírios.
Vivem situações tão humilhantes quanto engraçadas. Viveu várias aventuras antes
de retornar à Mancha. Numa delas quase foi esmagado, junto com Sancho, por uma
enorme roda de um moinho d’água. Cismou que um barquinho sem remo, que se
encontrava às margens do rio Ebro, era encantado e o levaria até uma fortaleza
próxima, onde havia um valente cavaleiro, o qual ele iria libertar. Outra
aventura hilária da dupla aconteceu quando uma duquesa os encontrou por acaso,
às margens de um outro rio. Quando os mesmos se apresentaram ela os reconheceu.
Lembrou-se de um livro que um anônimo escreveu sobre a história deles e que
circulava por todas as feiras da Espanha. Ela teve a idéia de se divertir com
as maluquices dos dois e disse-lhes que teria um enorme prazer em recebê-los
como hóspedes em seu castelo. Apesar de estarem sendo enganados e sendo objetos
de escárnio para o casal de duques e seus convidados, sem saber é claro,
tiveram um tratamento que fazia jus ao papel que fantasiosamente se
auto-atribuíram. Foram recebidos com festa e tratados com todas as honras e
solenidades que eram narradas nos livros de cavalaria. Até uma ilha Sancho
ganhou para governar. Entretanto, os duques, criados e convidados criaram
tantas situações constrangedoras e difíceis que Sancho renunciou ao cargo de
governador da ilha. Depois de tantas aventuras e desventuras D. Quixote
resolveu voltar à Mancha, reuniu a sobrinha, empregados e amigos e, bastante
debilitado, mesmo depois de um longo repouso e acompanhamento médico, acordou
de um longo sono e anunciou que a loucura o havia deixado e voltou a ser Dom
Alonso Quixano. Decidiu fazer seu testamento, pois sentia a morte aproximar-se.
Deixou as terras para a sobrinha, uma quantia em dinheiro para a governanta e
Sancho e, aos amigos, a lembrança de que, apesar da loucura, viveu cheio de
dignidade e bondade. Assim morreu um herói que, na sua loucura, foi tão
corajoso quanto os verdadeiros heróis da cavalaria, pois se propôs a tornar
real sua fantasia.